Dom Benedicto de Ulhoa Vieira `e um dos bispos mais cultos do Brasil. Arcebispo emerito de Uberaba e membro da Academia Mineira de Letras, ele, mesmo depois de aposentar de suas funcoes de bispo continua a fazer bem `a Igreja. Acompanhe na integra esse artigo de Dom Benedito, que recebi por e-mail.
“Vem-se notando na imprensa o habito lamentável de designar com o titulo de “bispo” o pastor ou o líder de qualquer agrupamento religioso.
Reflitamos: se alguém colocar na porta de seu escritório ou de sua residência uma placa indicativa com seu nome e – sem o ser – acrescentar “médico”, “advogado”, “professor” ou outra profissão, pode ser processado por falsidade profissional. Igualmente com o termo “bispo”. Daí a necessidade de se ter noção exata do que seja o uso correto do termo.
No inicio da pregação evangélica, os apóstolos de Cristo escolheram colaboradores que, após a sua morte, lhes sucedessem no governo das comunidades nascentes e na pregação da mensagem cristã. Inicialmente eram chamados de “sucessores dos apóstolos”, como nos informa Clemente Romano, no ano 96 da era cristã, na bela e conhecida Carta à Igreja de Corinto.
A missão destes sucessores era responsabilizar-se pelas comunidades que se formaram ao redor dos apóstolos, supervisionando a sua vida evangélica. Daí o verbo “episkopein” (supervisionar), de que vem o substantivo “epískopos”: o que zela como guarda e protetor, por supervisionar o rebanho. Em latim “epíscopus” e, em português bispo, isto é: o que tem a nobre missão, como autêntico sucessor dos apóstolos, de responsabilizar-se pela comunidade dos fiéis.
Hoje, quem escolhe e nomeia o bispo é o sucessor de São Pedro, o Papa. O eleito recebe a plenitude do sacramento da Ordem pela “keirotonia”, isto é: imposição das mãos de três outros bispos e pela unção e oração consecratória. Há, pois, uma corrente genealógica ascendente, que chega até um dos doze apóstolos, do qual o bispo atual é verdadeiro sucessor.
Não fica, pois, difícil entender que esta função de suceder a um dos doze apóstolos, função de superintender o rebanho de Cristo – “episkopein” – não pode ser usurpada. O despreparo teológico (ou ousadia) chega até a usar o termo no feminino!
A autoridade do bispo, sucessor dos apóstolos, vem da palavra de Jesus aos doze: “todo poder me foi dado no céu e na terra. Ide, pois: batizai e ensinai que observem o que lhes ensinei.” (Mt 28,19ss).
Triste saber que o termo que designa o poder espiritual de zelar pela Igreja, transmitido por Jesus Cristo aos doze apóstolos e, posteriormente aos sucessores, seja usurpado e vulgarizado, como vem acontecendo há algum tempo para cá. Esta explicação teológica da palavra “bispo” e sua função nos mostram que seu uso atual para designar qualquer líder religioso, não é apropriado e correto”.
Dom Benedicto de Ulhoa Vieira
Arcebispo Emerito de Uberaba MG
Gostou do artigo? Foi claro? comente.
agosto 24, 2009 às 7:23 pm |
Muito bem escrito. Que Deus continue abençoando a inteligência de D. Benedito!
Duas observações:
* D. Benedito era muito amigo de Mons. Eloi. Noseu Jubileu Áureo, D. Benedito esteve presente, dirigindo ao Mons. e cumprimentando-o por tão importante data. Tive a graça de estar presente naquela ocasião.
* D. Miguel está entre nós em visita pastoral e também ele vem nos alertando para esse tema.
Muito obrigada por lembrar-se de nós.
agosto 24, 2009 às 8:07 pm |
Muito bem explicado.Como sempre o Sr sabe colocar as palavras.
Nesta semana estamos recebendo a visita de Dom Miguel e esta explicação veio ampliar nossa visão da importancia do Bispo.
Abraços
agosto 24, 2009 às 10:43 pm |
Obrigado! Uma explicação muito simples e sem indagações vazias.Deu o recado com muito discernimento e sabedoria!!! Abraços!!!